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JORNAL 4° Viagem – 2006

JORNAL 4° VIAGEM

 

Índice

Apresentação

Editorial

Murici Dos Portelas

Breve Relatório da IV Viagem Missionária

A maior alegria

A missão esquecida

Água Viva e Socorro Emergencial

Trans-descendência Integral Do Evangelho

Evangelização Pela Oração

Recados benditos & bem-ditos

Carta do Martin

Nossos Caminhos

“Deixem vir a mim as crianças...”

A Prefeita Municipal de Murici dos Portelas

Viviam Ghizellini de Oliveira

Quem tem nos apoiado?

Relatório do Projeto Água Viva em Murici dos Portelas-PI

Flexibilidade, Contextualização e Sensibilidade na Evangelização

Transcrição da Fala do Pastor José Lucimar


 

Apresentação

O que faz alguém abrir mão das suas férias para embrenhar-se em uma viagem de 45 horas de ônibus rumo à terceira cidade mais pobre do Brasil? Talvez essa seja a primeira pergunta que se deseja fazer aos participantes da IV Edição do Projeto Água Viva. A equipe, composta por 25 pessoas (a maioria, estudantes universitários), passou 20 dias dos meses de abril e maio em Murici dos Portelas, Estado do Piauí. Porém, à luz do Deus que conhecemos, a pergunta deveria ser invertida. Ao olharmos para o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, essa interrogação é mera retórica. Mais correto seria perguntarmo-nos: por que a terceira cidade mais pobre do país não recebe visitas?
Murici dos Portelas, como muitas cidades brasileiras, sofre com o descaso e o esquecimento da sociedade, com a pobreza (em todos os sentidos) e a injustiça social, persistentes e doídas. Como levar esperança genuína a um povo acostumado a sofrer e, ao mesmo tempo, se faz forte para sobreviver a cada dia?
O caminho é a compaixão, isto é, compartilhar toda a paixão existente no coração de cada um de nós.
Paixão pela vida, pela justiça, pela igualdade, por Deus e pelo ser humano. Sentimento positivo e saudável que transforma vidas e realidades. Transforma a vida de quem dá e a vida de quem recebe.
Esses jovens levaram toda a compaixão que tinham; e trouxeram mais ainda na bagagem. Fortalecidos pela fé viva em Deus, eles se doaram e serviram aos outros de diversas formas: fizeram amigos, ensinaram música e linguagem de sinais (LIBRAS), construíram caixas d’água, pintaram casas, deram cursos de saúde preventiva, economia doméstica, aleitamento materno, etc. E o mais importante de tudo: testemunharam com palavras e ações sobre o grande amor que Deus tem pelo povo de Murici dos Portelas.
Nesta segunda edição do Jornal Água Viva queremos convidar a cada leitor a mergulhar nas histórias maravilhosas que esses jovens missionários vivenciaram em Murici dos Portelas. Aqui temos testemunhos, artigos, notícias, estatísticas, imagens, impressões e resultados. Tudo à sua disposição.
Abra os olhos, prepare os ouvidos e sinta com o coração.

Lissânder Dias, Jornalista e missionário, colaborador do PROAV


Editorial

Jesus, a igreja e o resgate integral do ser humano

A IV Edição do Projeto Água Viva acaba de chegar (11/05) de Murici dos Portelas, Piauí, considerado o terceiro município mais pobre da Federação e com menos de 1% de evangélicos. A pobreza ali encontrada é perversa, agressiva e parece ter vida própria. Zomba de nós, ao mesmo tempo que nos induz a uma sensação de impotência e nos estimula a desistir. Define-se como pobres as pessoas que não suprem permanentemente suas próprias necessidades elementares como: comida, abrigo, vestuário, educação e saúde. Muitas dessas pessoas moram nas favelas, nas zonas rurais das capitais brasileiras e principalmente no Nordeste. Não ingerem a energia diária requerida para a manutenção do seu organismo e o desenvolvimento de suas atividades locomotoras essenciais. No Brasil, essas pessoas já somam 50 milhões que vivem abaixo da linha da indigência (29% da população). No Piauí, esse índice sobe para 61,7%.
A triste realidade é que essas estatísticas incluem um grande número de crianças. Trata-se de um batalhão de desnutridos, e, portanto, mais susceptíveis às várias doenças oriundas da própria falta de higiene e saneamento registradas nos ambientes em que vivem. Como resultado temos os altos índices de mortalidade infantil nessas áreas. Há muitas crianças que ainda morrem de diarréia em nosso país!
Existe no Brasil uma estreita co-relação entre a extrema pobreza no Nordeste e a ausência do Evangelho. O Piauí é o segundo Estado mais pobre da Federação e o menos evangelizado. O mais triste de tudo isso é saber que muitos poucos querem evangelizar nesses locais do país e que temos pastores dispostos a ir por apenas um salário e meio, mas não encontramos igrejas que queiram assumir esse compromisso com eles.
O que dizer a esse povo? Que esperança poderá ser dada a eles? Lembro-me, nesse momento, das palavras do Dr. R. Shedd no Segundo Congresso Brasileiro de Evangelização, em 2003: “Somos 25 milhões de evangélicos no Brasil. Onde está o poder dessa multidão?” Será que estamos sendo meros expectadores passivos da degradação moral, ética, social e até mesmo bíblica em nosso país?
1 Pedro 2.9 nos define como uma “nação santa”. Efésios 5.8 diz que “somos luz no Senhor e que devemos andar como filhos da luz”. Porém a pergunta do Dr. Shedd parece nos remeter a Mateus 5.14,15 que diz não ser possível esconder uma cidade construída sobre os montes ou acender uma candeia e coloca-la debaixo de uma vasilha. Ainda que erigida no mais alto dos montes, parece que nossa “nação” está escondida. E nossa luz não está no velador e sim debaixo do alqueire (do cesto). É triste, mas essa é uma verdade incontestável evidente da igreja contemporânea que insiste em assumir a postura do “igrejismo” (o comodismo do banco de igreja).
As Sagradas Escrituras nos mostram um Jesus incansável e inquieto com relação à injustiça social e que nos comissiona a ser sal e luz no mundo. Ele nos dá inúmeros exemplos de como a miséria, a pobreza e a injustiça social o incomodavam. Tanto é que Jesus se compadecia dessas populações por meio de várias ações como: cura, consolo, conforto, ensinamentos de ética, cidadania, direitos, deveres, justiça e amor. O Deus que habitou entre nós e nos apresentou um reino de justiça integral. Ele sabia, obviamente, que seria um grande contra-senso que o anúncio desse reino não permitisse o resgate do homem em todas as áreas da sua vida. Se assim o fosse, o Evangelho seria incompleto.
Em suas pregações, Jesus não só anunciava o arrependimento como primeiro passo para o resgate da dignidade humana perdida em Adão, como também proclamava o resgate completo (moral, social, etc).
É este o evangelho da esperança na recuperação do homem em sua integralidade. A missão de Jesus era uma missão integral!
O legado que nos foi deixado por Jesus é o anúncio de um evangelho que não é capenga em sua essência, e muito menos “templocêntrico”. E sim, de uma libertação integral: de uma vida digna neste mundo e vida plena e eterna no porvir.
A verdade é que temos sido omissos em “ensinar a guardar tudo o que Ele nos ordenou”. (Mt 28.20). Ou recuperamos o homem de modo completo, anunciando o evangelho da salvação e dando-lhe condições de vida digna em seu próprio ambiente (Gn 1.26) ou nossa pregação será vã e não será aquela que Jesus Cristo nos ensinou. Será, portanto, apenas uma pregação de homens.

João Tinôco, Coordenador do PROAV


MURICI DOS PORTELAS

População: 6.449 hab.
Território: 484 km²
Localização: microrregião do litoral Piauiense
Limite geográfico: Norte: Estado do Maranhão; Sul: Joaquim Pires e Caxingó; Oeste: Joaquim Pires e
Maranhão; Leste: Caxingó.
Distância da Capital do Estado: 261 km de Teresina
Altitude: 99m acima do nível do mar
Temperatura: mínima de 25º C – máxima de 35º C
Clima: quente tropical
Taxa de analfabetismo (15 anos ou mais): 54,41% - no Piauí: 30,51%; No Brasil: 13,63%
% de evangélicos em relação à população:
OBS: O município é banhado pelo rio Parnaíba, o segundo rio mais importante do Nordeste depois do São Francisco.


Breve Relatório da IV Viagem Missionária

- Edição: 4ª Viagem Missionária a Comunidades Carentes do Nordeste
- Municípios alcançados: Murici dos Portelas-PI e Chamurro (zona rural)
- Denominação contemplada: Igreja Cristã Evangélica do Brasil (AICEB - Associação das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil)
- Período da viagem: 22 de abril a 11 maio de 2006
- Número de participantes: A equipe foi formada com 25 pessoas, sendo 19 estudantes universitários regularmente matriculados em 14 cursos da UFV.
- Principais atividades desenvolvidas na 4ª viagem:

a) Técnicas: oficinas, projeto arquitetônico da igreja, assistência técnica ao município (área de resíduos);

b) Sociais: palestras, programas de rádio na FM local, além de corte de cabelo, atendimento odontológico e assistência na área médica.

c) Evangelísticas: teatro adulto, atividades infantis, visitações, projeções do filme “Jesus”, panfletagem com folhetos evangelísticos, distribuição de revistas Ultimato, distribuição de bíblias, escola bíblica dominical e cultos;
** Atividades de destaque neste item: Plantação de uma igreja (Cristã Evangélica) no município com a entrega do projeto arquitetônico e creche anexa, negociação do terreno de 736m² com a prefeitura e doação de R$10.000,00 reais para construção da igreja e creche.

d) Outras atividades: reuniões com autoridades locais; assistência técnica ao município; projeto de uma praça de convivência; bazar (que registrou uma renda de 2.511,35 reais doados para a construção da igreja) e visita à Lagoa Negra.

e) Doações recebidas pelo Projeto e repassadas à comunidade:
3.648 - Total de peças de roupa
283 - Calçados
10 - Cobertores
6 - Travesseiros
20 - Cintos
77 - Bolsas
108 - Bonés
76 - Escovas de dente
115 - Pastas de dente
197 - Sabonetes
60 - Utensílios domésticos
607 - Brinquedos
310 - Livros didáticos e outros
456 - Folhetos sobre saúde preventiva

f) Estatísticas das atividades técnicas e sociais:
80 - atendimentos odontológicos
18 - exames preventivos
60 - idosos vacinados
1 - parto domiciliar
11 - apresentações teatrais para 680 pessoas
14 - palestras (saúde bucal; orçamento familiar; cuidados com o bebê; lixo e meio ambiente; integração dos surdos à sociedade; ética e equipe; métodos contraceptivos) para 416 pessoas.
5 - oficinas (ferro e cimento; musicalização; tinta da terra; xadrez nas escolas) para 43 pessoas
87 - cortes de cabelo
82 - horas de programação no ar (rádio local)
4 - horas de filmagem
2.200 – fotos

g) Estatística das Atividades Evangelísticas:
3 - exibições do filme Jesus para 641 pessoas
4 - cultos (2 no colégio, 1 no lar, 1 ao ar livre) com participação de 386 pessoas
335 - crianças participaram de atividades diversas (teatro, estórias, músicas, brincadeiras etc).
150 - visitas aos lares
3.100 – folhetos distribuídos
50 - Bíblias ilustradas doadas
120 - Novos Testamentos dados
4 - bíblias completas concedidas
300 - Revistas Ultimato distribuídas

Fábio Gomide Nolasco - aluno do curso de Eng. Florestal da UFV


A MAIOR ALEGRIAO Projeto Água Viva me proporciona muitas alegrias: jovens estudantes engajados em missão, liderança corajosa, viagem com destino ao Nordeste...
Mas, sem dúvida, a maior alegria é o trabalho desenvolvido entre pessoas carentes da nossa sociedade.
Antes da quarta viagem missionária iniciar, li em minha Bíblia o seguinte: “Feliz a pessoa que cuida do fraco, no dia da desgraça o Senhor o libertará.” (Sl 41.1-CNBB)
A passagem bíblica continua com várias promessas dirigidas ao que ajuda o desfavorecido.
É muito agradável ouvir que a nossa equipe se aproximou dos nossos conterrâneos que moram no município mais pobre do país, localizado no estado mais carente da federação.
Foi uma experiência sem igual o fato deles conviverem com pessoas em suas realidades de escassez, em suas casas pobres, mas hospitaleiras, comer de sua mesa, ouvir seus casos e oferecer atitudes práticas de ajuda. Não tenho dúvida da bênção de Deus sobre os pobres de Murici dos Portelas, sobre os trabalhadores desta seara e sobre toda a nossa igreja por intermédio desta feliz iniciativa .Sinto-me extremamente feliz assim como os discípulos que voltaram de sua missão pelas terras da palestina no tempo de Jesus. Graças a Deus!


A missão esquecida

Ariovaldo Ramos

A gente sabe que tem de pregar o evangelho a toda a criatura. Essa é a missão requerida. A gente não pode obrigar as pessoas a se converter, mas, deve falar para todo mundo, quem crer será salvo. Deus não vai nos cobrar o número de gente que se converteu, mas, provavelmente, nos cobrará o quanto pregamos.
Essa missão a gente conhece e, de um jeito ou de outro, nós a temos feito. A gente sabe como fazê-la e como constatar se a temos feito o não. Porém, há uma missão que também deve ser feita e que, também, tem uma maneira de medir se estamos ou não fazendo, a qual, nós temos nos de esquecido de fazer, pelo menos, com a intensidade pedida.
Essa missão, como outra, foi ordenada por Jesus Cristo.
Vamos começar pelo jeito de saber se a missão está sendo cumprida. Na primeira missão, o jeito de saber era e é geográfico. Jesus disse: Pelo poder do Espírito Santo, vocês não vão me anunciar em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. E disse mais: essas boas notícias, de que Deus está vindo para assumir o governo sobre tudo e sobre todos, será anunciada em todo o mundo e, então, virá o fim.
Como você pode ver a questão é medida geograficamente, a gente sabe se cumpriu ou não, na medida em que vê quantos e quais territórios foram cobertos e quantos faltam. Então, é uma questão de contar.
Na missão missão esquecida é uma questão de ouvir.
Ouvir o que? Ora, o que... glórias e aleluias.

Jesus disse que era para gente levar todo mundo a glorificar o Pai Celestial, está lá na última parte de Mateus 5.16. Como você pode ver, Jesus quer todo mundo dando glórias ao Pai. E como fazer para que as pessoas venham a dar glórias? Jesus dá a receita: para que eles falem, eles têm de ver. E o que temos de mostrar-lhes são as nossas boas obras. Jesus disse que nossas boas obras são o jeito deles perceberem que nós somos luz para eles. Sabe, o senhor disse que nós somos a luz do mundo, mas, adianta ser luz num mundo cego? As nossas boas obras vão funcionar como a pessoa que ajuda um portador de necessidades especiais na área da visão a atravessar a rua. As nossas boas obras darão autoridade às nossas palavras. A missão esquecida é caminho para a missão requerida.

Quando a gente os ajuda a resolver o problema da fome, a resolver o problema da nudez. Quando a gente os visita e os ajuda a resolver o problema da saúde pública. Quando a gente se importa com eles e os ajuda a resolver o problema do sistema carcerário. Quando a gente os ajuda a ler e escrever. Quando a gente tira as crianças da rua e de todo o tipo de exploração. Quando a gente luta por moradias dignas, por transporte eficiente e barato, por trabalho dignamente remunerado para todos, por bom e gratuito ensino público para todos, por uma economia solidária, por uma cidade humanizada onde haja espaço para todos, por uma distribuição de terra que mantenha o camponês no campo, a gente começa a despertar nas pessoas gratidão, e eles saberão que é a Deus que essa gratidão deve ser dirigida por que, à medida em que vamos fazendo as boas obras, vamos falando do amor de Deus que nos empurra para fazer o que estamos fazendo. E nós ouviremos os glórias que demonstrarão que nossa missão está sendo cumprida. Além disso, nossas boas obras provocarão neles a pergunta: " como eles podem ser assim? " e, quem sabe, uma pergunta melhor ainda: como nós podemos, também, ser assim?


Água Viva e Socorro Emergencial

Acabei de chegar de uma reunião, por iniciativa conjunta de algumas missões e da AFTB (Associação de Fazedores de Tendas do Brasil), sobre a formação no Brasil de uma Rede de Socorro Emergencial. Alguns líderes se sentem frustrados por não enviarmos sequer um brasileiro cristão para ajudar nas situações de desastres pelo mundo, como aconteceu no Paquistão, no ano passado. (Em termos de atendimento pós-desastre, a própria ONU reconheceu que o terremoto no Paquistão, apesar de menos divulgado pela mídia, foi pior que o tsunami do Natal de 2004.)
O objetivo dessa Rede recém-formada é “enviar socorro integral — médico, técnico, alimentar, psicológico e espiritual —, num prazo o mais curto possível, a partir da Igreja brasileira, para os locais aonde acontecem catástrofes por desastres naturais e, ou humanos (guerra) em qualquer parte do mundo, com grande número de vítimas, precisando de ajuda emergencial”.
Somos talvez 25 milhões de evangélicos no país! Temos de dar a nossa contribuição, como outras nações já têm feito, enviando esses profissionais bem preparados.
Creio que o Projeto Água Viva - PROAV, além de já ser um valioso serviço em si, também ajuda no treinamento e preparo de pessoas que podem se tornar esses futuros profissionais, dispostos até para o campo transcultural, se for preciso.
Tomar banho de canequinha, conviver 24 horas por dia com o sofrimento alheio, trabalhar em equipe, aprendendo a respeitar-se mutuamente, fazer parto “emergencial”, prestar ajuda de todo tipo, consolar, aprender, servir... Tudo isso foi feito na última viagem do PROAV, em Murici dos Portelas - PI. Isso, sim, é treinamento para o futuro profissional dedicado ao serviço do reino de Deus!

Délnia Bastos
AFTB (Associação de Fazedores de Tendas do Brasil)


TRANS-DESCENDÊNCIA INTEGRAL DO EVANGELHO

“...Na proclamação do convite do evangelho não temos o direito de ocultar o preço do discipulado. Jesus continua a requerer de todos que desejam segui-lo que se neguem a si mesmos, tomem a sua cruz e identifiquem-se com a sua nova comunidade. Os resultados do evangelho incluem obediência a Cristo, inclusão no seio da igreja e serviço fidedigno no mundo”. (Pacto de Lausanne IV)

A OUTRA COMUNIDADE
Nos escritos de Mateus os discípulos são confirmados pelo batismo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações batizando-os em nome de Pai, do Filho e do Espírito Santo...” (Mt. 28.19). Uma percepção de Divindade integral se instala no cenário do Novo Testamento: Deus Pai, soberano criador de todas as coisas – Deus transcendente, indescritível, inominável, pleno de amor e justiça. Jesus Cristo, o Filho do Pai que trans-descende entre o povo, contextualiza-se participando da história, de situações sócio-econômicas e culturais. E, o Espírito Santo, o Deus que habita em nós consolando, edificando, intercedendo – portanto, realidade no campo psico-emocional. A Divindade como comunidade trinitária é uma inusitada percepção do Reino de Deus sobre todas as coisas: Todo o universo, todos os processos históricos e os espaços mais restritos e subjetivos dos sentimentos humanos. Assim, o preço do discipulado requer, antes de um compromisso com todas as pessoas e com humanidade toda, um compromisso de amar e acolher toda a plenitude de Deus. Não apenas uma identificação com a nova comunidade dos discípulos, mas, sobretudo, com a comunidade Trinitária. Através da adoração, contemplação e apreciação inteligente somos cativados pelo Espírito Santo a amarmos a Deus, a vivermos em desfrute de todas as virtudes de Jesus Cristo e em plena obediência a todo o conselho de Deus.

INCLUSÃO NO SEIO DA IGREJA
Alcançados pelo amor do Pai, os discípulos são constrangidos a viver numa comunidade de amor. A comunidade dos discípulos é a maquete, uma expressão dessa “Outra cultura” modelada pela comunidade Trinitária; sendo ao mesmo tempo, a alternativa contínua de transformação da sociedade. Entendemos desse modo, que a Missão Integral não se reduz a uma tarefa. É, de fato, a priori, o acolhimento da graça e do amor de Deus, para então, como conseqüência, se viver o exemplo da vida plena de nosso Senhor Jesus Cristo. É a instauração dos paradigmas do Reino de Deus; o desenvolvimento, pelo Espírito, de uma “inteligência espiritual comunitária” capaz de discernir todas as manifestações do bem e do mal. Uma comunidade desafiada a obedecer o mandamento de amar internamente, para expressar com coerência, amor pelos “de fora”. Sua unidade interna não anula o supremo mandamento de amar a todos.

SERVIÇO FIDEDIGNO AO MUNDO
Como desdobramento, a comunidade dos discípulos manifesta pelo testemunho, proclamação e serviço ao próximo a sua missão no mundo. As virtudes do discípulo são evidenciadas na simples presença – pois, “Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte” (Mt. 5.14). A humildade de espírito, a sensibilidade, a fome e sede de justiça, a santidade, a construção da paz, a prática da misericórdia são manifestações que identificam a presença dessa nova comunidade (Mt. 5.1-12).
Como o ser humano diferencia-se dos demais animais, também, pela capacidade de comunicação, o discípulo proclama as boas novas do Reino de Deus, a fim de que, todas as pessoas tenham a oportunidade de responder ao chamado de Jesus Cristo.
À semelhança do Filho, a comunidade dos discípulos serve em amor ao próximo, contextualiza-se, inseri-se entre o povo, corre todos os riscos, participando ativamente no processo histórico de construção de todo o bem na luta contra o mal. À semelhança do Pai, a igreja age por amor e graça. À semelhança do Espírito Santo, torna-se a consoladora dos afligidos pelo mal, ora intercedendo para que o Reino venha em plenitude e socializa todos as suas virtudes e bens.
A Missão Integral é ser e fazer discípulos – homens e mulheres transformados de glória em glória até a imagem de nosso Senhor Jesus Cristo (II Co 3.18). É ser uma presença, em essência e modelo, da comunidade Trinitária: Corpo de Cristo, Povo de Deus, Comunhão do Espírito Santo. É ser uma expressão ou sinal visível do Reino de Deus no mundo, em serviço ao próximo. Que o Projeto Água Viva continue buscando ser essa expressão no Sertão Nordestino.

Carlos Queiroz, Diretor Executivo da Visão Mundial.


EVANGELIZAÇÃO PELA ORAÇÃO

Elben M. Lenz César

A oração intercessória é um elemento-chave na evangelização. Talvez o melhor exemplo seja o de Paulo: “O desejo de meu coração e a minha oração a Deus pelos israelitas é que eles sejam salvos” (Rm 10.1). Jesus também orou antecipadamente por aqueles que iriam crer nele por meio da mensagem dos primeiros crentes (Jo 17.20).
É preciso orar por causa do estado de morte em que estão todos os 6,3 bilhões de habitantes do planeta, sem qualquer possibilidade de retornar à vida. A Bíblia explica: “Todos pecaram e estão privados [oudestituídos] da glória de Deus” (Rm 3.23, BV). Estão todos mortos em transgressões e pecados (Ef 2.1). A terra é um vale cheio de ossos sequíssimos, que precisam se juntar osso com osso outra vez e receber carne, tendões, pele e espírito, para retornar à vida, de acordo com a visão de Ezequiel (Ez 37.1-10).
É preciso orar por causa da extrema dureza do coração humano. O pecador tem “coração obstinado” (Is 46.12), “tendão de ferro no pescoço” e “testa de bronze” (Is 48.4). Ele carrega uma pesada bagagem de apatia, ignorância, cegueira, loucura, incredulidade, tradicionalismo, preconceito, soberba e servidão pecaminosa.
É preciso orar porque é Deus quem efetua “tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2.13). Nesta epístola, Paulo dá o seguinte testemunho: “Estou convencido de que aquele que começou a boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo” (Fp 1.6). Talvez ele esteja se lembrando de que foi ali em Filipos que o Senhor abriu o coração de Lídia para atender à sua mensagem (At 16.14).
É preciso orar porque é Deus quem troca o coração de pedra por um coração de carne. Só depois dessa cirurgia de ordem religiosa é que os pecadores “agirão segundo os meus decretos e serão cuidadosos em obedecer à minhas leis” (Êx 11.19,20).
É preciso orar porque é o Espírito Santo que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8).
A NTLH explica melhor: “Ele convencerá a gente do mundo de que eles têm uma idéia errada a respeito do pecado e do que é direito e justo e também do julgamento de Deus”.
É preciso orar porque a misericórdia de Deus não é obrigatória. Ao mencionar a eleição de Jacó e a rejeição de Esaú, Paulo assegura: “Deus tem misericórdia de quem Ele quer, e endurece a quem Ele quer” (Rm 9.18). Em quase todas as epístolas, o apóstolo se refere a ele mesmo e aos seus leitores como chamados para ser de Jesus (Rm 1.1,6,7; 1 Co 1.1,2; Gl 1.6, 15; Ef 4.4; Cl 3.15; 1 Ts 2.12; 2 Ts 2.14; 1 Tm 6.12; 1 Tm 1.9).


Recados benditos & bem-ditos

"É impressionante a forma como Deus age: fizemos três meses de treinamento com vários aspectos sendo abordados para exercer na prática o evangelho de Jesus Cristo junto a esse povo tão esquecido de Murici.
Agora eu sinto como se Ele estivesse nos dizendo, para invertermos o processo: pegar tudo o que aprendemos aqui e aplicar em Viçosa e na Universidade".
Valéria Mafra, UFV/PROAV – estudante de Biologia

“Seguir as instruções de Deus é, antes de tudo, assumir o desafio da submissão”.
Elben César, Editora Ultimato

“Não há lugar na Bíblia para o individualismo. A fé cristã é uma fé que agrega”.
Jony Almeida, pastor da IPV

“Missão Integral é, antes de tudo, um ato de amor e doação ao povo que servimos. Temos que ter total submissão a Deus e falar a linguagem deles”.
Shirley, missionária da igreja Assembléia de Deus

"Vocês do projeto água viva deixaram as pessoas do Murici dos Portelas que eram tristes ficarem felizes. Eu vou sentir muita falta de vocês, não só de vocês mas das brincadeiras, dos filmes de Jesus e das historinhas que vocês contaram".
Sandy (8 anos) e Bruna (11 anos), moradoras de Murici dos Portelas/PI

"Olhe moço. Todos de Murici tem elogiado vocês. Vocês são um povo bom, vocês sabem pisar em terra alheia. Vocês trouxeram muita alegria para a cidade".
Raimundo Nonato (Seu Dodô), morador de Murici dos Portelas/PI

“Na família de Deus temos que respeitar o direito e o modo de ser do outro”
Arabela Telles, mestranda em missiologia, CEM


Carta do Martin

Este Projeto é o segundo do Proav que eu tenho oportunidade de acompanhar e cooperar. Posso dizer que desta vez foi ainda melhor do que no ano passado. A equipe de Viçosa veio no tempo certo em Murici dos Portelas-PI. Os moradores ali estavam bem informados sobre a vinda e a prefeita e as assessoras bastante preocupadas com a chegada e bem estar do povo de Minas Gerais. Elas desocuparam três casas para os nossos alojamentos, um colégio onde pudermos ter as nossas reuniões e refeições, e nos últimos dias a prefeita desocupou até a Câmara Municipal para o nosso uso. Realmente foi Deus que ajudou abrir todas estas portas. Também a prefeita cedeu para a equipe o rádio dela para o uso o dia inteiro.
O casal Tinôco e Elibia, com a equipe de Viçosa, se dedicaram completamente ao serviço do Senhor. Cada um veio preparado em uma ou mais áreas e já no terceiro dia a população começou a desfrutar das palestras, clube para crianças, visitas, oficinas, tratamentos, bazar, teatro e filme de Jesus, e muito mais momentos marcantes.
Alguns irmãos de igrejas da redondeza ajudaram e apoiaram o projeto. O povo de Murici dos Portelas notou, este projeto tem mãos e pés e não faz somente palavras. Foi semeado a palavra de Deus, foi vivido o evangelho de Cristo e as pessoas sentiram algo diferente, algo que anima e traz esperança e vida.
Este projeto deixou marcas para a eternidade. Quando o grupo regressou para Viçosa, alguns irmãos da igreja Cristã Evangélica ficaram para dar continuidade. Naquela noite reunimos logo os interessados e foi ótimo, umas 25 pessoas estavam ali e juntos na casa onde o PETI está funcionando durante o dia. A prefeita nos abriu esta casa enquanto o salão da nova igreja será construído. Em tudo podemos dizer: Senhor Jesus, Tu és maravilhoso, tens dado esta oportunidade a esta cidade Murici dos Portelas e a todos nós. Tu, Senhor tens nos ajudado, a Ti pertence toda a glória e honra, nós fizemos apenas o que éramos obrigados a fazer.
O PROAV recebe de mim a nota 10. Continuem assim e eu espero que possamos ainda trabalhar juntos em muitas localidades aqui no carente Piaui. Nós do Pró - Piaui, da Missão Suiça -SAM e as Igrejas Cristãs Evangélicas da AICEB precisamos destas preciosas cooperações. Projetos como este nos traz muita força e ânimo, nos ajuda em progredir na implantação de novas igrejas. O que eu estimo muito no PROAV é que este projeto leva a serio as necessidades do ser humano de uma forma integral. É assim como Jesus trabalhou e também nós devemos trabalhar.
Deus continue abençoar este PROAV e todos os irmãos e as irmãs que fizeram parte em Murici dos Portelas.

Agradeço
Martin Baumann, Vice-Diretor da Missão Suíça no Brasil - SAM


Nossos Caminhos

A 1ª Viagem
Data: janeiro de 2003
O Projeto Água Viva (PROAV) teve seu início operacional no sertão de Sergipe, no município de Nossa Senhora da Glória (17 mil habitantes), graças ao convite, ao apoio e à orientação recebidos do Presbitério Central, através do pastor Neemias e do presbítero Astolfo, irmãos sempre presentes.
Pode-se afirmar que naquela oportunidade ímpar (janeiro de 2003), o PROAV teve sua formatação definida: ser um instrumento de Deus para ações de missão integral, nas comunidades carentes do nordeste, com amor, humildade e submissão.

A 2ª Viagem
Data: janeiro de 2004
A segunda viagem missionária do PROAV, ainda com a parceria dos irmãos de Sergipe, contou com o apoio da Igreja Presbiteriana de Viçosa, da Universidade Federal de Viçosa – UFV – e de outras igrejas evangélicas. Essa viagem contou com uma equipe de 25 pessoas (4 coordenadores e 21 universitários de 17 cursos da UFV). Trabalhamos em seis povoados no sertão do Sergipe: Poço Redondo, Sítios Novos, Curralinho, Queimada Grande e Alto Bonito (assentamento de sem-terra) e Nação dos Chocós (aldeia indígena). Foram 25 dias de trabalho no mês de janeiro de 2004. Nessa oportunidade foram desenvolvidas inúmeras atividades técnicas, sociais, assistenciais e evangelísticas. Nesse período, Deus nos permitiu consolidar o Projeto Água Viva, por meio de muitas bênçãos recebidas, conversões, plantação de igreja, treinamento de líderes cristãos, bem como o chamado de irmãos da equipe para um ministério de missão biocupacional (veja foto da igreja plantada em Poço Redondo/SE).

A 3ª Viagem
Data: 9 a 29 de janeiro de 2005
Nossa terceira viagem missionária teve origem num convite da Aliança Suíça de Missões, que juntamente com a Igreja Cristã Evangélica nos apoiaram, acolheram e juntos tivemos, com as bênçãos de nosso Deus, uma rica oportunidade de servir ao Reino nos municípios de Anísio de Abreu e Jurema, no extremo sul do Piauí. Ali, além dos trabalhos técnicos, sociais e evangelísticos, pudemos revitalizar uma igreja em Anísio de Abreu e plantar uma igreja em Jurema, município com menos de 1% de evangélicos.

A 4ª Viagem
Data: 22 de abril a11 de maio de 2006
Como de costume, a 4ª Edição do PROAV começou com as inscrições (voluntárias) dos participantes. Em seguida foi realizado um treinamento que durou três meses, durante os fins de semana, onde contamos com a ajuda de 15 voluntários, que abordaram todas as atividades que foram efetuadas no campo (veja detalhes na pág. xx). O encerramento dos treinamentos da equipe deu-se em um retiro espiritual em um sítio, onde pudemos ali, com oração e muita comunhão, formar a “família Água Viva” da Quarta Viagem Missionária.
Desta vez estivemos em Murici dos Portelas/PI, a convite da AICEB (Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil) e da Aliança Suíça de Missões. Murici é considerado o terceiro município mais pobre da Federação. Conta com 5.966 habitantes. Por causa da indisponibilidade de tempo, atendemos, além da Sede, a apenas uma comunidade rural chamada Chamurro (1.800 hab.).
Encontramos mais uma vez no sertão do Piauí, um povo carente, amigo e muito receptivo. As misericórdias de Jesus e o amor de Deus Pai nos fizeram enxergar, em meio àquele povo tão pobre, “um campo branco pronto para a colheita (Jo 4:35). Foram várias decisões por Jesus (tanto nos cultos oficiais, nos lares, através do Filme Jesus, do teatro, das visitas etc.
O grupo deixou um terreno, o projeto arquitetônico do templo e da creche anexa. O maravilhoso de tudo isso é que a igreja já está se reunindo em uma sala de aula de uma escola municipal em Murici, enquanto o templo será erguido onde todos os novos crentes poderão se congregar. Não é preciso inventar a roda. Durante esses quatro anos, trabalhamos em 11 comunidades. Nessas viagens missionárias, não fizemos nada que Jesus não tenha ensinado, nem tão pouco nada que outros missionários não tenham feito. Obedecemos à voz do Espírito, buscando total submissão a Deus. Para isso contamos com o entusiasmo, a vida e a vocação de universitários cristãos, que têm tornado o Projeto Água Viva um estágio de vivência, um treinamento para líderes e uma oportunidade de servir ao Reino de Deus, a quem sejam dadas toda honra e toda glória.


“Deixem vir a mim as crianças...”

O trabalho com as crianças em Murici dos Portelas foi incrível. Por mais que estivéssemos preparados para realizar um bom trabalho, não sabíamos exatamente o que nos aguardava. Ainda em Viçosa, enquanto a equipe, muito unida, preparava as lembrancinhas, as músicas, o teatro, as estórias... percebia-se claramente o mover de Deus, capacitando a cada um com criatividade e outros dons.
Fizemos tudo com muito carinho e dedicação. A expectativa era imensa. Não sabíamos quantas crianças seriam e como elas se portariam.
Ao iniciarmos os trabalhos, não restava nenhuma dúvida que o Espírito Santo do Senhor estava agindo. Era impressionante como o boneco “Dudu” e a menina “Deinha”, personagens criados pela equipe, conseguiram prender a total atenção de mais de 200 crianças. A cada dia conquistávamos não somente a atenção, mas a confiança e o carinho delas. Às vezes estávamos muito cansados, mas, minutos antes de começar uma atividade, sentíamos que nossas forças eram milagrosamente renovadas e sem perceber já estávamos pulando, cantando e brincando...
Foi maravilhoso comprovar que a Palavra de Deus semeada naqueles coraçõezinhos não foi em vão. Era só andar nas ruas de Murici para ouvir uma voz doce e infantil cantando que é “grande, tão grande o amor de Deus”.
As próprias crianças facilitavam o trabalho das visitas nos lares, porque levavam o que aprendiam para dentro de suas casas e ensinavam aos seus pais e irmãos.
Temos fé que a semente que foi lançada em Murici irá produzir muitos frutos ainda. Nossos pequenos missionários poderão ser um instrumento nas mãos de Deus para que isto aconteça. Vale à pena ouvir a advertência de Jesus: “Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas” (Marcos 10.14 - NVI)

Valéria Mafra, estudante de Biologia - UFV


A Prefeita Municipal de Murici dos Portelas
A Prefeita Municipal de Murici dos Portelas, Auridéa Santos Portela, tem a satisfação em agradecer o “Projeto Água Viva”, pelas atividades realizadas no município, onde o povo participou e sendo beneficiado com seus trabalhos, um trabalho social eu ficará na história do município.
Agradecemos de modo especial o professor Tinoco que foi incansável, apesar do clima quente de nossa cidade, enfim toda equipe foi incansável, demonstraram um compromisso com o desenvolvimento do nosso município.
Nosso povo simples, mas acolhedor, viveu dias de muita alegria, com as atividades realizadas como teatro, palestras, filmes, visitas, construção de caixa dágua, casas pintadas com argila e materiais acessíveis às pessoas, brincadeiras com as crianças, atendimento odontológico, corte de cabelo, ginástica para a terceira idade, o trabalho da enfermeira-parteira, o bazar e o culto de Evangelização para salvação dos filhos de Deus.
Tudo foi maravilhoso, coisa nova para a população, gostaria de ter atendido melhor a todos, mas a estrutura da cidade está em fase de desenvolvimento, foi o que pudemos atendê-los, esperamos contar com a compreensão de todos, tenham a certeza que tudo o que ensinaram ao povo contribuirá muito no crescimento das pessoas e do município.
A todos que fazem o “Projeto Água Viva” o nosso muito obrigado em nome dos Muricienses.Murici dos Portelas (PI), 08 de maio de 2006. Auridéa Santos Portela
Prefeita Municipal de Murici dos Portelas-PI


Viviam Ghizellini de Oliveira
Após aproximadamente 44 horas de viajem em um ônibus da Universidade Federal de Viçosa, desembarcamos na cidadezinha de Murici dos Portelas no estado do Piauí. Um lugar com uma população aproximada de 6 mil habitantes distribuídos na área sede municipal e em pequenas comunidades mais afastadas.
As expectativas eram grandes, tanto da equipe do Projeto Água Viva (PROAV) quanto daqueles que estavam nos recebendo, com certeza aquele momento e os dias que se sucederam foram marcantes e especiais para ambas as partes. Mas, por que o Nordeste, ou um município do Piauí?
Para atender a essas questões, respondemos primeiramente ao “por que ir”? Embora seja clássico e bem conhecido, nos remetemos a um dos versículos que indica a grande comissão deixada por Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Nesse contexto Jesus falava para seus discípulos após sua ressurreição, cada um escolhido de uma classe social, ofícios e temperamentos diferentes, mas todos foram comissionados. Crendo nessa palavra e buscando praticá-la como cristãos e discípulos do Senhor Jesus, cada qual com sua classe social, ofício, temperamento, etc, se dispôs a ir.
Não obstante a observação desse texto, muitos podem questionar o investimento na ação missionária próxima a nossa realidade. Esse questionamento é correto e a Bíblia nos fala a esse respeito no texto de Atos capítulo 1 e versículo 8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós, e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Observamos que devemos ser testemunhas nos âmbitos mais próximos a nós, até alcançar localidades mais distantes e, ainda que grande parte dos integrantes do Projeto já sejam ativos em atividades evangelísticas em suas “Samarias”, através de testemunhos ao findar do projeto, percebemos que durante o tempo de nosso trabalho no Piauí fomos na realidade treinados para nossa atividade missionária em nossas universidades, trabalhos, em meio aos amigos, enfim em nossa vida cotidiana.
Com relação às questões de escolha da região Nordeste e do estado do Piauí especificamente, mencionamos fatos levantados em pesquisas do Censo do IBGE 1991, que mostrou uma porcentagem de 12% de evangélicos no Brasil, sendo que nas regiões os números foram dados em 17% para o Norte, 15% para o Centro-Oeste, 13% para o Sul e o Sudeste e 8% para o Nordeste. Constata-se assim, que a região nordeste apresenta a menor proporção de evangélicos no país. E qual é a realidade de porcentagem de evangélicos dentro desta região? Segundo projeções da SEPAL de 2005, os estados que compõem a região nordeste apresentariam a seguinte conformação: Pernambuco 19,1%, Maranhão 15,6%, Bahia 15,2%, Alagoas 14,17%, Paraíba 14,0%, Rio Grande do Norte 13,5%, Ceará 11,9%, Sergipe 10,0% e Piauí 8,7%. Com esse resultado de menor proporção para o estado do Piauí, temos que trabalhamos na área menos evangelizada do país.
Além dessas questões é de conhecimento geral que a região nordeste apresenta os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, que mede taxas de educação, saúde e renda. Tendo em vista esses pontos, o PROAV escolhe locais que apresentam esse perfil por crer e buscar a prática de uma “missão integral”, buscando atender tanto às necessidades da alma quanto do corpo. Em Mateus capítulo 14, versículo 16, vemos Jesus dizendo: “...dai-lhes vós de comer”, diante da necessidade física de fome da multidão que ali estava ouvindo suas palavras. E nesse mesmo texto é visto que no gesto de dar de comer aos necessitados, Jesus operou o grande milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
No desenvolvimento das oficinas técnicas, palestras, doações, é isso que constatamos, são formas materiais de mostrar caminhos alternativos, dentro da realidade das comunidades atendidas para que algumas de suas necessidades externas sejam supridas, ao mesmo tempo em que através disso as pessoas são aproximadas dos gestos de amor de Jesus. Foi isso exatamente que senti, em cada empenho de cada irmão, em cada atividade. Era Jesus ali apresentado através dos gestos práticos, um corte de cabelo, uma demonstração de uma oficina que ajudaria na renda familiar, uma palestra que contribuiria na saúde, um sorriso, um abraço de uma criança. É por isso que fomos à Murici dos Portelas, por vontade e favorecimento do Senhor Jesus, para levarmos seu amor, para sermos Sua testemunha.Viviam Ghizellini de Oliveira - Estudante de Geografia – UFV.
BIBLIOGRAFIA:
www.comibam.org> Acesso em: 19 maio. 2006.
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia Sagrada: Plenitude.1995. Sociedade Bíblica do Brasil.


QUEM TEM NOS APOIADO?

Nesta IV Viagem, o PROAV contou com o seguinte suporte:

Parcerias: Universidade Federal de Viçosa/MG, Missão Suíça/PI; Visão Mundial; Fundação Bacelar/PI.

Apoio: IPV, igrejas evangélicas de Viçosa, Igreja Presbiteriana Aliança de Campinas, Terceira Igreja
Presbiteriana de Belo Horizonte, Igreja Batista Central de Belo Horizonte, AICEB – Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil, Fundação Getúlio Vargas e CAPEMI (funcionários), CEM, Rebusca, Editora Ultimato e Banco do Brasil.

Patrocínio: Philips do Brasil/F. Fundation (para construção das praças públicas e equipamentos eletroeletrônicos).

VOCÊ CONHECE A EQUIPE DO PROAV?

Coordenadores
Elibia Tinoco e João Tinôco (Coordenação Geral)
Eric Fernandes M. Araújo (estudante de Ciência da Computação - UFV)
Fábio Gomide Nolasco (estudante de Eng. Florestal - UFV)
Istéffany Fróes Mendes (estudante de Geografia - UFV)
Leo Griffo Perciano (estudante de Eng. Civil – UFV)
Ney Sussumu Sakiyama (Presbítero e Prof. da UFV)
Reinaldo Percinoto Jr. (Presbítero e Assessor da ABU)

Treinadores das Equipes (Voluntários)
Agnês Raquel Camisão Silva, Enf.
Ângela Filgueira, Psic.
Antônia van der Meer (Tonica), Miss.
Arabela Teles Quintiliano Silva, Miss.
Clóves Homem, Prof.
Cristina Maria do Prado Lima, Dra.
Custódio Damião Gonçalves
Elben M. L. César, Pr.
Elibia Tinoco
Fabiana M. Mognago, Dra.
Fábio Gomide Nolasco
João Tinôco Pereira Neto, Prof.
Jonas Alves Rodrigues
José Cambraia, Pb.
Lúcia Duque Reis
Marcelo Rodrigues de Almeida
Michele Morais
Pedro Eugênio Quirino (pintor)
Projeto Filme Jesus (equipe)
Reinaldo Percinoto Jr, Pb
Vânia Lúcia Pereira, Miss.


Relatório do Projeto Água Viva em Murici dos Portelas-PI
Com muita gratidão a Deus e prazer recebemos já a segunda vez a caravana de universitários de Viçosa-MG no nosso Piauí. No extremo norte, numa pequena cidade isolada, prôximo do delta do rio Paraíba foi investido tempo, talentos e outros recursos para um povo muito carente em muitos espectos. E extremamente pobre e necessitado de orientação e ajuda. Logo após a chegada do prof. Tinôco com os seus missionários, a senhora Prefeita percebeu o valor e a importância desta visita do povo de Deus por duas semanas e abriu todas as portas. Ela alugou casas para hospedar cerca de 40 pessoas constantes e cedeu funcionários à serviço. Ela comprou um terreno e doou para a igreja a ser fundada e cedeu a transmissora de rádio local por seis horas por dia para transmitir palestras, mensagens bíblicas e música evangélica. Os colégios abriram as suas portas para receberem palestras. O trabalho social, as palestras práticas e a orientação ambiental, como também as apresentações de teatro, mensagens da Palavra de Deus e filmes chamaram muito atenção e despertou um grande interesse. O povo percebeu que os evangélicos não são sonhadores, e, sim, praticantes da Palavra de Deus.
Estamos muito animados com a vinda dos universitários, pois eles trazem para todos nós um novo horizonte no sentido duplo – espiritual, para quem ainda não conhece Jesus como seu Salvador, e também no sentido intelectual, pois eles são mais instruidos do que a grande maioria daqui. Planejamos o próximo projeto com “Agua Viva” para a cidade de Palmeiras do Piaui ou Alvorada do Gurguéia, ambas cidades altamente carentes e todas duas encontram-se no sul do Estado. Oramos a Deus que ele nos permita mais uma etapa e que que ele suprirá as necessidades destas despesas, que são grandes. Mas vale a pena!Pr. Beat Roggensinger, Diretor do Pró PIAUI e coordenador da Missão Suiça (SAM)


Flexibilidade, Contextualização e Sensibilidade na Evangelização

Ainda me vejo andando pelas ruas de Murici dos Portelas, o sol forte e o suor descendo pelo corpo. Visualizo um sorriso no rosto daquele senhor que se sentou na porta da sua casa, à sombra, para ver o tempo passar. Recebo um aceno tímido e, após responder, ouço um sonoro "Bom dia!".
Imagino Jesus andando sob o mesmo sol, há mais de dois mil anos atrás, passando por povoados e sendo recebido com uma não menos carinhosa saudação. Jesus sentava-se para conversar com as pessoas, com mansidão, amor e genuíno interesse por suas vidas. No fim da conversa, seu jeito de ensinar era comentado por todos: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mt 7.28,29).
Na IV Viagem Missionária do Projeto Água Viva, nos esforçamos para seguir o exemplo de Jesus.
Sentamos-nos para conversar e demonstramos real interesse pelas pessoas tal qual o próprio Cristo faria se estivesse ali em Murici. Assim foram os nossos dias, e não diferente disso foram as atividades, entre as quais quero me ater ao teatro!
Fomos muito bem recebidos em nossas apresentações, aprendemos, ensinamos, mudamos conceitos, presenciamos mudança de caráter, e muito mais foi alcançado, mas nossa limitação não permite que enxerguemos a imensidão de tudo o que Deus fez através deste grupo.
Flexibilidade, contextualização e sensibilidade. São as três coisas que marcaram todo o grupo.
Dispomos-nos a sermos flexíveis à vontade do Pai, que nos orientava e dava os passos a serem seguidos!
Quais peças apresentar? Quem irá dar uma palavra após a peça a fim de reforçar a mensagem e anunciar o Messias? Em que lugar iremos apresentar? A cada passo, uma resposta.
Buscamos nos contextualizar à realidade do local e do público: eram alunos, educadores e pessoas simples da comunidade que se dispunham a entrar conosco em uma realidade teatral ao som de músicas, gestos e movimentos; um ato de louvor a Deus, artístico e semeador da Sua Palavra.
Para contextualizar, foi necessário sentir. Sentir as necessidades locais e sentir os problemas enfrentados pela população. Para isso sentamos e conversamos com as pessoas; o que me remete ao inicio deste texto. Foram momentos de muito aprendizado, de cuidados e de mudanças. Mudanças no nosso próprio caráter, Deus nos moldando àquilo que Ele queria nos mostrar. Mudanças de atitudes de pessoas que vieram até nós dizendo que tomaram decisões sérias em suas vidas por causa daquela peça, sim, aquela que fala de aborto, ou aquela que trata sobre as drogas, ou aquela onde Jesus transforma a vida das pessoas! Um dos jovens que assistiu às peças veio mais que depressa conversar conosco, e em seguida tomou a decisão mais séria de sua vida: Aceitou a Jesus!
Se parasse por aqui já teríamos motivos de sobra para glorificar àquele para o qual vivemos. Mas Deus nos surpreendeu ainda mais. Ele usou pessoas do grupo, que se sentiam incapazes, para ganhar vidas para Cristo.
Olhos lacrimejantes são outros motivos de louvor! O Espírito Santo se movendo entre as pessoas de maneira visível, sem máscaras!
Todo louvor e honra seja dada ao nome Dele, e que a semente plantada por sete artistas cristãos, pessoas disponíveis ao agir de Deus, seja ainda mais frutífera, para bendizermos o nome daquele que nos enviou! Amém!

Eric Fernandes Araújo, estudante de Ciência da Computação - UFV


Transcrição da Fala do Pastor José Lucimar

O Projeto Água Viva, desde que o conhecemos através do professor João Tinoco, veio exatamente ao encontro do nosso ideal de trabalho, principalmente aqui na região Nordeste, especialmente aqui no Piauí.
Por ser um dos estados mais carentes do evangelho e pelo projeto Pro Piauí, que nós instituímos aqui. O Projeto Água Viva veio realmente nos ajudar muito nesta segunda edição aqui no Piauí. Temos nos sentido muito bem com o Água Viva, tem sido um auxilio muito grande que o Projeto dá a nós. Principalmente nestas cidades carentes de tudo. Também no Pro Piauí temos como ponto básico de trabalho a ação social em comunidades carentes. Por isso disse que o Água Viva veio de encontro ao nosso ideal, por exercer um trabalho muito significativo na parte social, entre as pessoas carentes, entre as pessoas pobres. Portanto, um Projeto essencial para nós do Pro Piauí.
A Missão Suíça e nós da AICEB (aliança das igrejas cristã evangélicas do Brasil) já temos uma parceria de longos anos trabalhando juntos. E juntos instituímos o Pro Piauí. A parceria, o casamento com o Projeto Água Viva veio realmente somar ao que já era feito aqui. Nós, AICEB e Missão Suíça, nos sentimos muito fortalecidos com o Projeto Água Viva.
O Estado do Piauí, por ser um dos mais carentes da nossa federação brasileira, é também um dos Estados mais carentes de Deus, do evangelho. É um Estado pobre, inclusive de Deus. Ainda temos mais de trinta municípios com menos de 1% de evangélicos. Municípios tão pobres, carentes de tudo. E as carências da área social se refletem na vida espiritual. E o Água Viva, junto com o Pro Piauí, vem para de fato suprir essas necessidades. Trabalhando na área social, ajudando os carentes, nós também queremos levar a mensagem do evangelho. E com a mensagem do evangelho plantada nós deixamos uma igreja em cada município visitado pelo Projeto. É um grande desafio para nós um trabalho como esse. No ano passado o Projeto Água Viva deixou uma igreja em Anísio de Abreu e outra em Jurema, ambas as cidades no sul do Piauí. Este ano vamos deixar outra aqui em Murici dos Portelas. Depois de todo o trabalho realizado pelos jovens universitários e por alguns apoiadores nossos aqui da região, pretendemos continuar o trabalho (a obra) edificando uma igreja. Além da igreja, vamos continuar trabalhando na área social. O Projeto visa resgatar o homem da pobreza e do distanciamento de Deus.